AXé - princípio fundamental de toda a força que move o mundo. A essência do orixá e do homem, a essência da vida.

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Lendas- Obá perde a Orelha.

Xangô, rei de Oió, tinha três lindas esposas: Iansã, Oxum e Obá.

Iansã era guerreira e muito inconstante. Oxum era doce e delicada, mas muito ardilosa. E Obá, a mais velha das três, também tinha o espírito guerreiro, porém era insegura por conta de sua idade.

Cada semana uma das esposas cozinhava, e como todo rei, Xangô decidia com qual esposa iria se deitar no dia. Obá percebia que Xangô procurava mais Oxum que a própria Iansã, a qual seria sua parte feminina. Também sabia que Oxum era uma grande feiticeira, conhecedora das ervas e de mistérios que ninguém mais conhecia.

Se questionou:

´´ Já não me procura mais, O que deve ser? Sou velha demais? Não agrado mais ao meu rei?``

Desconfiada, foi logo procurar Oxum assim que Xangô saiu de seus aposentos e encontrou a Iabá de frente para o espelho ajeitando um lenço que acabara de pôr em sua cabeça, cobrindo também suas orelhas.

Obá, meio sem jeito, arriscou de uma vez a perguntar qual era o segredo de Oxum para deixar seu rei tão encantado a ponto de procurá-la quase todos os dias.

Observando a insegurança da rival Oxum começou a se gabar:

´´  Você quer saber qual o meu segredo?! - Riu- Meu Rei me deseja toda noite porque tenho um ingrediente secreto que coloco em seu Amalá que o deixa insaciável por mim!  ``

Quanto mais Oxum falava, mais Obá se entristecia. Percebendo a fragilidade da mulher, promete ajudá-la. Diz que ensinaria a ela seu segredo, mas que deveria ser feito a risca, pois seria também uma prova de seu amor pelo rei. Obá concorda e Oxum diz:

´´ Meu segredo é simples... Cortei minhas orelhas e coloquei no Amalá de Xangô. O resultado você já viu, não é? Faça o mesmo, mostre-o como você o ama. ``

Na semana seguinte chegou a vez de Obá cozinhar e seguiu o conselho direitinho. Preparou o Amalá de seu esposo e para enfeitar o prato decepa sua orelha e a coloca no meio do prato. Ensanguentada amarra um lenço enfaixando sua cabeça e vai logo mostrar-se a Xangô.

A mulher ferida estava de joelhos, com os pratos nas mãos e feliz pelo ato de amor que fizera. Mas isso só causou em Xangô repugnância e Òdio. Oxum que também estava presente descobre a cabeça e mostra suas orelhas intactas e diz:

´´ Achas mesmo que Oxum vai cortar suas belas orelhas? As orelhas de Oxum só servem para carregarem jóias e serem acariciadas pelo amor de seu rei Xangô``

Foi a gota que faltava. Xangô brandando raios e trovões expulsa as duas iabás de seu palácio no céu, ficando somente com Iansã como esposa. Obá e Oxum se transformaram em dois rios que desceram em forma de cascata e toda vez que suas águas se encontram acontece um conflito, como a pororoca.

Axé!

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Lendas- Logun Edé, o filho de várias mães.

Logun é filho de Oxum Ypondá com Oxóssi Ibu Alama. Seu nascimento trataremos dentro de outro post, aqui vou me concentrar apenas em contar como esse orixá foi cuidado por várias mães distintas.

Logun nascera uma criança forte, saudável e muito arteiro. Vivia em um acordo firmado pelos seus pais de viver seis meses com a mãe, no fundo do rio, e seis meses com o pai, nas brenhas das matas.

Nesse período que estava com sua mãe, Logun parecia um peixinho. Nadava para lá e para cá, mas sempre com a supervisão e o alerta de Oxum de que não poderia sair de perto dela, pois a parte mais funda e turbulenta do rio pertenceria a Obá, seu desafeto, e essa faria de tudo para fazê-lo mal para afetar a ela.

Mas, crianças, não ouviu nada do que disse sua mãe. Foi nadando, e quando viu já estava se afogando. Obá, que perdera a orelha pelas artimanhas de Oxum queria que ela sentisse uma dor semelhante a dela e começou a afogar o garoto. Desesperada, não podia fazer nada pois ali não eram seus domínios, foi então que clamou a Olorum para que salvasse seu filho.

É nessa parte da lenda que ela se divide. Alguns dirão que Olorum pede que Iansã crie um tornado e arremesse o garoto para o mar, e que a punição de Oxum por não ter cuidado direito dele seria ter o filho criado por sua mãe Iemanjá. Outros vão dizer que Olorum salva a criança o levando para longe dos domínios de Oxum e Obá, na beira do riacho que banhava a aldeia de Ogum, onde Iansã o salva e o pega como filho.

Oyá vai terminar de criá-lo, mas quando foge com Xangô o abandona com seu ´´pai`` Ogum.

Xangô é um outro personagem importante na história de Logun Edé. Pois em outra lenda diz que Oxum quando perdeu a guarda de Logun, esse foi criado por seu pai Odé. Oxóssi nunca contou sobre sua mãe, mas a curiosidade do jovem o fez chegar até um riacho aonde por acidente vê uma linda mulher encima de uma pedra se banhando cercada de belas serviçais.  Era Oxum, sua mãe, mas ele não sabia e ficou imóvel, sem poder descrever tamanha adimiração.

Quando Oxum se vê sendo espiada pelo ´´muleque`` se assusta, mas mantém a compostura. Algo acontece e ela reconhece o filho a muito tempo perdido. Vai ao seu encontro e o tira de trás de um arbusto. A emoção toma os dois e o afeto adormecido renasce. Ficaram a tarde inteira brincando e se conhecendo mais, mas nessa época Oxum era mulher de Xangô e o ciumento rei não admitia que homens cercassem suas iabás.

Xangô daria uma festa em seu palácio no céu. Logun queria ver como era o reino de sua mãe e Oxum logo deu um jeito. No dia da festa Logun apareceu vestido como uma das serviçais e ficou ao lado da mãe, despertando a curiosidade do senhor dos trovões. No ato do banho Xangô, que também não é bobo, fez com que todas as serviçais mergulhassem com sua esposa, o que fez os disfarce se desmancha inteiro. Furioso Xangô o expulsa do seu palácio.

Xangô toma essa importância, pois Logun perde sua mãe Oxum, que fugira com ele e mais tarde sua mãe Oyá faria o mesmo.

Outra lenda sobre Oxum e Logun conta que Oyá e Obaluaê andavam na mata quando avistaram um menino travesso com um toco de bambu cutucando uma colmeia que caiu encima dele, fazendo com que um enxame de abelhas o atacasse ferozmente. Oyá corre e entra na frente do garoto espantando os insetos com vento. Mas a criança estava muito ferida e quase morrendo quando ela implora que Obaluaê o cure com suas ervas e seus conhecimentos. Assim é feito.

 Recuperado, Oyá sai com o menino para procurar sua mãe e encontra Oxum, a aquem entrega o menino.

Oxum fica muito, muito feliz e entrega de presente a Oyá um ababê, espelho, de ouro. As duas se tornam grandes amigas desde então.

Bom, as travessuras de Logun são bem notáveis, e por ser o mais novo dos Orixás recebe o título de príncipe carinhosamente. Como se deve esperar os Filhos de Logun sempre terão alguém que os cuide ou que tente os proteger, por ter essa juventude encrostada em seus espíritos.


Loci, Loci! Axé!

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Lendas- A supremacia de Oxum.

OXUM, a Iabá mais caprichosa e dengosa do panteão Africano.

Sua importância para a vida no Ayê, Terra, é incontestável. Tanto que em uma lenda diz que quando Olorum Criou a Terra e mandou os primeiros orixás para cá, esqueceu-se de mandar Oxum e da terra nada brotou. Tudo morria, não importasse o quanto os outros orixás se esforçassem para cultivar.

Percebendo o engano mandou imediatamente Oxum, que regou o solo seco com suas águas doces. Trouxe a vida consigo e de suas águas todos nós ainda dependemos para sobreviver.

Mas, apesar de ser reconhecidamente essencial sua presença, ainda assim era renegada em certas ocasiões pela sua origem: É uma mulher.

As mulheres, iabás, não participavam dos conselhos entre os Orixás e Olorum, e sequer poderiam saber sobre o que foi conversado. Oxum tinha uma importância grande demais para ser rechaçada simplesmente por ser uma mulher. Logo, se virou para os Orixás masculinos e declarou sua vontade:

´´ Enquanto as iabás não puderem participar de igual nos conselhos para com Olorum, nenhuma água doce regara o solo, e os homens, tão quanto os orixás, só conhecerão a sede, a peste e a morte.``

Ignoraram a advertência e continuaram renegando as mulheres nas tomadas de decisões. Dia após dia a seca chegou, logo veio a peste, e a morte, IKU, em seguida levava aos milhares. Os homens clamavam desesperadamente alguma atitude dos Orixás, que só tinham como recurso Olorum.

Olorum então proclamou:

´´ Vão até Oxum e lhe peça perdão. Dê a ela oferendas para que perdoe a falta de vocês.``

E assim o fizeram. Foram até Oxum cheios de mimos e desculpas. Mas ela, que já sabia que acabaria assim, não se mostrou surpresa, nem orgulhosa, os desculpou e trouxe de volta suas águas ao mundo.

Desde esse dia em diante todas as mulheres participavam de todas as reuniões com o Criador.

Axé.

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Lendas - Oyá Ygbalé/ Iansã do Balé

Iansã é a dona dos ventos e tempestades, em sua essência é a senhora dos movimentos, das ações. Uma guerreira incansável que é inconstante e rápida, não espera nada vir para sua mão, tem gosto de ir buscar seja o que for, aonde quer que esteja. Foi isso que a fez ganhar essa qualidade.

Oyá estava cansada de se ver submissa ao domínio dos orixás masculinos, que eram detentores do poder. Então saiu pelo mundo visitando o reino de cada orixá-homem com a intenção de ter esses poderes também para si.

Ganhou nas matas o domínio do Ofá e Oxóssi lhe ensinou a se disfarçar de Búfalo, ganhando a sua pele e seus chifres. Na Forja aprendeu com Ogum a brandar a espada e a lutar exíminiamente. Com Xangô, sua parte masculina, aprendeu a manipular o fogo e a controlar os relâmpagos. Com Oxaguiã aprendeu a arte do pilão e assim por diante.

Andou o mundo até chegar no reino de Omulú. Lá tentou de tudo, mas o Orixá não se rendia a seus encantos. Se vendo sem alternativas Oyá dançou no vento pelos sete cantos do mundo em homenagem ao senhor da terra, que sequer se comoveu com o ato ousado da iabá.

Omulú já era bem velho, e conhecia o comportamento intempestivo de Iansã, mas se surpreendeu quando percebeu que ela, sem mais artifícios, prostou os joelhos no chão e pediu Agô. Pediu humildemente que Omulú lhe desse alguma sabedoria, e o velho vendo que finalmente ela havia entendido o que ele queria passar lhe entregou o domínio do cemitério e a responsabilidade das almas que lá se encontram.

Com seu Eruexim, instrumento sagrado feito com rabo de cavalo e cobre ou seu ramo de Mariwó, folha do dendezeiro, conduz os espíritos desencarnados para o Orúm ( Céu). Assim como não permite que os Eguns, espíritos, perturbem os vivos.

Ganhou o nome de Oyá Igbalé (cemitério).

Essa qualidade de Iansã, diferente das outras, se veste totalmente de branco ( como sinal de luto pelas almas desencarnadas que comanda).